Público recebe bem o brasileiro 'O Lobo atrás da Porta’

Cena-do-longa-brasileiro-O-Lobo-atras-da-Porta-de-Fernando-Coimbra-size-598

Milhem Cortaz provocou risadas da plateia quase cheia do Scotiabank Theatre 3, em Toronto, ao se sentar no palco pouco depois da projeção de O Lobo atrás da Porta, de Fernando Coimbra. “Estou muito emocionado, nem consigo falar direito”, disse o ator, que ainda não tinha visto o filme. O Lobo atrás da Porta teve a sua estreia mundial no Festival de Toronto, na noite desta quarta-feira. Leandra Leal foi igualmente aplaudida ao subir ao palco depois da projeção, com cerca de 80% da plateia de 387 lugares ocupada.

O Lobo atrás da Porta é baseado em um caso que ficou famoso nos anos 1960 no Rio de Janeiro. Na trama que se passa nos dias de hoje, Sylvia (Fabíula Nascimento) vai buscar a filha na escola e descobre que a menina foi levada por uma mulher que se disse sua vizinha. Na investigação da polícia, seu marido Bernardo (Milhem Cortaz) é obrigado a admitir que tem uma amante, Rosa (Leandra Leal). O filme se passa nos subúrbios cariocas nos dias de hoje – um cenário pouco visto na produção cinematográfica brasileira.

Em seu primeiro longa-metragem, Coimbra (dos curtas Trópico das Cabras, de 2007, e O Retrato de Deus Quando Jovem, de 1996) mostra domínio da dramaturgia e dos aspectos formais. O filme traz duas versões: a de Bernardo e a de Rosa. O tom é contido, quase seco mesmo, apesar de reproduzir a verborragia do carioca do subúrbio. A explosão vem apenas no final. Aqui não há dramas sociais, mas sim paixões humanas. Poderia ser em Marechal Hermes ou no Queens, em Nova York. A violência, aqui, está dentro de cada ser humano: basta um gatilho para que venha à tona.

O Lobo atrás da Porta difere de boa parte da produção brasileira e marca uma estreia impressionante de seu diretor, com destaque também para os três atores principais. O público mostrou entusiasmo na sessão de perguntas e respostas após a exibição oficial. Coimbra contou como foi o início do projeto. “Fiquei sabendo dessa história, e de como a mulher que sequestrou a criança foi chamada de monstro e de besta. Eu não concordo com o que ela fez, mas acho que é algo humano, não inumano.” Milhem Cortaz contou que foi um trabalho difícil, porque ele tinha se tornado pai fazia pouco tempo.

Um espectador perguntou sobre o trabalho de câmera e a fotografia de Lula Carvalho, que chamou de inovadores. “No caso dos depoimentos, queria uma câmera objetiva, na mão. Nas versões de Bernardo e Rosa, a câmera é subjetiva, com planos-sequência, sem cortes”, explicou Coimbra. “Eu e o Lula Carvalho começamos juntos nos curtas-metragens, e hoje ele está fazendo a fotografia de Robocop.”

O trabalho dos atores foi destacado por outro membro do público. O diretor explicou que houve três semanas de leituras e ensaios e que, quando o ator alcançava a emoção certa da cena, ele parava para continuar apenas na filmagem. Leandra Leal elogiou Coimbra. “Ele é muito preciso e sabe exatamente o que quer”, contou. Para ela, filmar em plano-sequência foi fundamental, especialmente numa cena de briga bem forte entre Rosa e Bernardo. “Dá uma sensação de estar vivenciando aquilo mesmo”, completou a atriz.

O Lobo atrás da Porta passa no Festival de San Sebastián, na Espanha, e estreia no Brasil na mostra competitiva da Première Brasil, no Festival do Rio.

Crítica no site da Revista Veja.

Posted in Noticias | Comments Off

Comments are closed.